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Se em 2021 a recuperação econômica, ainda que lenta, foi um dos fatores que mais chamaram a atenção dos analistas, o ano de 2022, contrariando as expectativas de que a economia continuaria no mesmo ritmo de crescimento econômico mundial, foi marcado por incertezas e inconstâncias. O ano de 2022 trouxe inúmeros desafios para a economia global, dentre os quais destacamos: inflação recorde, alta de juros, a invasão russa à Ucrânia e a crise de energia na Europa, são pontos a se destacar.
Apesar de parecer que as coisas estavam entrando nos eixos e os percalços, principalmente causados pela pandemia da COVID-19, estavam ficando para trás, em 2022 tivemos que lidar com a intensifica- ção de mais um desafio, um que dessa vez não era nem um pouco desconhecido: a inflação. Ela já estava no radar dos especialistas, mas veio crescendo cada vez mais rápido e mais persistentemente do que o esperado, chegando a afetar até mesmo países de economias mais fortes e desenvolvidas, onde atingiu as taxas mais altas desde 1982.
Ainda que tenha apresentado uma pequena queda no índice de preços ao consumidor no mês de julho e agosto, a inflação nos Estados Unidos, por exemplo, atingiu um dos níveis mais altos dos últimos 40 anos, com preços em agosto 8,3% superiores aos de um ano antes. A Zona do Euro presenciou uma inflação de 10,4% em dezembro, enquanto o Reino Unido apresentou inflação anual de 9,9%.
Contudo, o maior impacto da inflação é sofrido pelos países com economia em desenvolvimento, como os da América Latina e Caribe, com inflação de 14,8% em dezembro de maneira geral, o México com 8,5%, a Indonésia com 5,51%, a África do Sul com 7,2%, entre outros. Nesses países, metade da despesa de consumo doméstico é com alimentos, o que significa que a infla- ção afeta diretamente a saúde e o padrão de vida das pessoas. No que diz respeito ao Brasil, vamos analisar com profundidade no capítulo “Panorama Nacional”, mais a frente.
Figura 1: Variação da inflação em diferentes economias -
Fonte: World Economic Outlook: Countering the Cost-of-Living Crisis; oct. 2022
Todos esses infortúnios são consequências à invasão na Ucrânia pela Rússia, que ocorreu no início de 2022. Ela não somente causou o deslocamento de milhares de famílias e levou muitos ao falecimento, mas também criou riscos para a estabilidade financeira mundial. Ainda, testou a resiliência dos mercados financeiros, uma vez que o conflito afetou os preços dos combustí- veis, de energia e dos preços dos alimentos, e, consequentemente, gerou um efeito inflacionário global.
Figura 2: Impacto dos alimentos e combustíveis na inflação
Fonte: World Economic Outlook: Countering the Cost-of-Living Crisis; oct. 2022
Segundo especialistas, em 2022 o mundo enfrentou o que eles chamam de “crise das commodities”, e dentre as principais economias afetadas por tal crise está a Argentina. Segundo um levantamento realizado pela consultoria Austin Rating, o país fronteiriço é o 5° com a maior inflação do mundo, no acumulado de 12 meses, com 92%, a alta inflação e os desequilíbrios da economia levaram à insatisfação dos trabalhadores em razão da deterioração da renda e levou quase 40% da população à pobreza, aumentando os protestos nas ruas. A Argentina está atrás do Sudão (4ª posição), que acumula uma inflação de 103%, e ultrapassou a Turquia (6ª posição), com um índice inflacionário de 85,5%.
Além disso, com o intuito de combater a inflação, os Bancos Centrais se viram obrigados pela escalada dos preços e a elevar as taxas de juros. No Brasil, o Banco Central (BC) apresentou uma sequência de 12 altas, iniciada em março de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano. A taxa chegou a 13,75% em agosto, e o Copom manteve a Selic neste patamar em suas três últimas reuniões. No restante do mundo, a situação é similar. Em novembro, o Banco da Inglaterra (BoE) elevou, pela oitava vez, as taxas de juros em 0,75 ponto percentual, o maior aumento em 33 anos. Já na zona do euro, o Banco Central Europeu (BCE) também elevou, pela terceira vez consecutiva, a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual. Os Estados Unidos, por sua vez, apresentaram sete aumentos seguidos realizados pelo Federal Reserve (Fed – o banco central do país) no último ano. A última alta, em 14 de dezembro, foi a menor delas, de 0,5 ponto percentual. Dessa maneira, os juros norte-americanos encerraram o ano entre 4,25% a 4,50% ao ano.
Outro importante acontecimento em 2022 foi a crise do petróleo, uma vez que, em março, seus preços atingiram o nível mais alto desde 2008 em função dos primeiros desdobramentos da guerra e negociações entre Estados Unidos e Irã, e chegaram a ser negociados a US$ 129,78 por barril. Esse foi o ápice do aumento dos preços do petróleo. De acordo com especialistas, a guerra trouxe à commodity volatilidade, o que explicaria, por exemplo, o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil e no mundo. Na indústria turística, o impacto foi sentido, principalmente, pelas empresas aéreas, que foram obrigados a refletir os custos em seus preços.
TURISMO
Ainda que o ano tenha começado com uma nova variante da COVID-19, a Ômicron, seguida pela invasão à Ucrânia, e os percalços econômicos e geopolíticos já apresentados anteriormente, em 2022 o Turismo Internacional mais uma vez demonstrou claros sinais de resiliência.
Segundo os dados da Organização Mundial do Turismo (UNWTO) a recuperação do setor ainda é lenta, entretanto evidente. O ano de 2022 teve uma forte recuperação de chegadas internacionais, de -59% (comparado aos níveis de 2019) no primeiro trimestre de 2022 para -28% no último trimestre. O turismo internacional apresentou resultados melhores do que o esperado para 2022, apoiados por uma grande demanda reprimida e o levantamento ou diminuição das restrições de viagem em um grande número de países.
Figura 3: Chegada de turistas internacionais (milhão) - Fonte: UNWTO . International Tourist Arrivals
Aproximadamente 917 milhões de viagens internacionais foram realizadas, o dobro do número alcançado em 2021, mas ainda 37% menor do que em 2019. Ou seja, houve uma recuperação de 63% do setor em comparação com níveis pré-pandêmicos.
Figura 4: Variação mensal da movimentação de turistas internacional. Fonte: UNWTO, 2023.
A Europa, que é a maior região de destinos turísticos do mundo, registrou 585 milhões de chegadas em 2022, atingindo quase 80% dos níveis pré-pandêmicos (-21% em relação a 2019). Esses números representam 64% de todas as chegadas internacionais.
Figura 5: Divisão de chegadas por região - Fonte: UNWTO, 2023.
Já o Oriente Médio foi a su-bregião que apresentou o maior aumento relativo, com chegadas subindo para 83% de números pré-pandêmicos (-17% comparado com 2019). Isso se deu principalmente porque a região recebeu grandes eventos, como a Expo 2020 Dubai e a Copa do Mundo da FIFA no Catar, bem como o altamente concorrido Hajj, na Arábia Saudita - a peregrinação que milhões de muçulmanos obrigatoriamente fazem todos os anos até a cidade de Meca. Hajj significa, justamente, “peregrinação” em árabe.
A África e as Américas recuperaram 65% de seus visitantes internacionais pré- -pandêmicos, enquanto a Ásia e o Pacífico alcançaram apenas 23%, em razão de fortes restrições contra Covid-19. Em 2019, a Ásia era responsável por 25% dos turistas internacionais, contudo, em 2022, esse continente representou apenas 9% em razão da adoção de medidas mais severas de restrições de viagens. Separando em sub-regi- ões, a Europa Ocidental e o Caribe são os que mais se aproximaram dos números pré- -pandêmicos, 87% e 84% respectivamente.
Figura 6: Variação por sub-região 2022 x 2019 - Fonte: UNWTO, 2023.
Em 2022 houve também uma boa recupera- ção nos gastos com turismo, o que resultou na recuperação de níveis pré-pandêmicos de renda em muitos destinos. Por conseguinte, alguns destinos turísticos foram capazes de atingir em 2022 níveis pré-pandêmicos, sendo eles: Ilhas Virgens (+27%), Albânia (+17%), Honduras (+17%), Sint Maarten (+15%), Andorra (+14%), República Dominicana (+10%), El Salvador (+7%), Curaçao (+6%), Colômbia (+5%) Etiópia (+3%) e Liechtenstein (+2%).
Figura 7: Destinos de melhor desempenho Janeiro-Dezembro 2022 - Fonte: UNWTO, 2023.
No que concerne ao tráfego aéreo, também foram notados ótimos resultados. Em razão da redução das restrições de viagens e à forte vontade dos passageiros de voltar a viajar, em 2022 o tráfego aéreo de passageiros ganhou impulso globalmente e se recuperou substancialmente de 41,7% da receita de 2019 de passageiro por quilômetros (conhecida no mundo da aviação por RPKs) em 2021, para 68,5% em 2022.
Figura 8: RPK Internacional das 10 principais rotas aéreas - Fonte: IATA Statistics, 2023.
Os RPK domésticos, por sua vez, recuperaram 79,6% do tráfego de passageiros pré-pandê- mico em 2022 e cresceram 10,9% em comparação com os níveis de 2021. Já os RPK internacionais recuperaram 62,2% do tráfego de 2019 e cresceram 152,7% em relação ao ano anterior. Os mercados domésticos monitorados continuaram mostrando resiliência e níveis de tráfego estáveis. O tráfego internacional de passageiros dentro e entre a região da Ásia-Pacífico e o resto do mundo também continuou a mostrar tendências positivas.
Figura 9: Recuperação Internacional e Doméstico, 2020 x 2019
Fonte: IATA - Quartely, 4Q, 2023
A respeito das companhias aéreas, nota-se que seus resultados foram divergentes em 2022. As transportadoras norte-americanas lideraram o setor ao atingir níveis de tráfego de passageiros próximos do pré-pandêmico com RPK totais 11,3% abaixo dos resultados de 2019, seguidas pelas transportadoras latino-americanas e europeias com 14,2% e 22,2%, respectivamente, abaixo dos níveis de 2019. Além disso, ao longo do ano, a reabertura em muitas economias da região da Ásia-Pacífico permitiu que passageiros e companhias aéreas voltassem aos céus, acelerando bastante o crescimento do tráfego nos mercados doméstico e internacional. Embora os RPK realizados em 2022 tenham ficado 54,4% abaixo dos níveis de 2019 para as companhias aéreas dessa região, os recentes desenvolvimentos relacionados à reabertura das viagens internacionais na China apresentam uma perspectiva positiva para os próximos meses.
Figura 10: RPK E CTK das 10 principais rotas aéreas, 2019 x 2022. Fonte: IATA Industry year-end review by route area, 2023.
No que diz respeito ao transporte de carga, de acordo com a IATA, a demanda de carga aérea em todo o setor, medida por tonelada por quilômetro de carga (CTKs), permaneceu praticamente inalterada em 20,6 bilhões em dezembro. Isso representa uma queda de 15,3% em relação ao mesmo mês de 2021 e também é 7,4% menor do que o nível pré-pandêmico correspondente. Essa demanda apresentou-se mais fraca em virtude dos inúmeros obstáculos que a indústria teve que enfrentar, de maneira que ela não apresentou um desempenho tão bom quanto o esperado em uma alta temporada tradicional. Entretanto, muitas rotas aéreas justificam-se não somente pelo transporte de passageiros, mas também pelo transporte de carga.
A inflação manteve-se elevada, limitando a capacidade de gasto das famílias. A guerra em andamento na Ucrânia, que interrompeu os fluxos comerciais, e a força incomum do dólar americano tornaram as commodities negociadas em dólares americanos mais caras em termos de moeda local. Para todo o ano civil de 2022, os CTK em todo o setor ficaram 8,0% abaixo dos níveis de 2021 e 1,6% abaixo dos níveis de 2019.
No setor de cruzeiros observamos um crescimento ainda mais poderoso que no aéreo, com 20,4 milhões de passageiros transportados em 2022, segundo os dados da Associação Internacional de Cruzeiros Marítimos - (CLIA). Este volume representa 325% de aumento com relação ao ano anterior, entretanto, ainda com -29,6% em relação a 2019. Observamos que o setor obteve um excelente desempenho em razão das inúmeras dificuldades já citadas, e se mostra com perspectiva de crescimento ainda maior para os próximos anos.
Figura 11: Passageiros em cruzeiros marítimos e projeções (milhão)
Fonte: CLIA Cruise Forecast /Tourism Economics, December 2022
Com relação à oferta para 2023, o Caribe representa 34% da oferta, seguida pelo mar Mediterraneo, com 18%, e a Europa (sem o Mediterraneo) com 13%.
Figura 12: Destinos dos cruzeiros - Fonte: CLIA Fast-Facts, jan 2023.
Outro fator a ser destacado no setor de cruzeiros é a sua responsabilidade para com a sustentabilidade e o meio ambiente, com compromissos firmados para chegar a zero as emissões de carbono em 2050. 100% dos navios em construção contaram com sistema avançado de tratamento de águas residuais, atualmente 78% dos navios já utiliza esse sistema avançado, e ainda, 79% dos navios com sistema de limpeza dos gases.
Somente para entrega em 2023, há 19 embarcações internacionais encomendadas, com capacidade total estimada em 38.587 passageiros. Esses navios serão propulsados por gás natural líquido.
Figura 13: Encomendas de navios de cruzeiros - Fonte: CLIA Fast-Facts, jan 2023.
Panorama
Nacional
ECONOMIA
O cenário econômico brasileiro de 2022 foi marcado por alguns fatores chaves, sendo eles a inflação, o aumento de juros, o desemprego, as eleições e o superávit das contas públicas.
A alta inflação iniciou-se logo no primeiro semestre de 2022, impulsionado pela guerra na Ucrânia, momento em que houve um aumento considerável no preço dos alimentos e do petróleo. Em abril, segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Combustível (IPCA), que mede a inflação no Brasil, chegou a 12,13%, a maior taxa para um período de 12 meses desde 2003. Ao longo do segundo semestre de 2022, houve um movimento acumulado de queda, e o IPCA fechou o ano com a taxa de 5,79% acumulada no ano.
Figura 14: Inflação ao longo de 2022 - Fonte: IBGE, 2023 (Elaboração g1).
Com o objetivo de reduzir os valores da gasolina e do diesel e tentar minimizar os efeitos do alto custo, o Governo Federal, por meio de uma Lei Complementar, limitou a cobrança de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o preço da gasolina nas bombas chegou a recuar quase 9% em razão dessa medida.
Figura 15: Taxa Básica de Juros (Selic) - Fonte: Banco Central
O Banco Central, pensando no controle da inflação, agiu na economia brasileira movimentando as taxas de juros. A Selic, taxa básica de juros, começou 2022 bem acima do piso, obtendo aumentos consideráveis da taxa no decorrer do ano, chegando em dezembro taxa de 13,75%.
Figura 16: Taxa Básica de Juros (Selic) - Fonte: Banco Central
De acordo com a Infinity Asset Management, o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais, considerando o total de 156 países. O objetivo da subida do juros é combater a inflação, mas o efeito colateral percebido é a redução do crescimento da economia e o estancamento do PIB, que começou bem em 2022, apontando para um crescimento da economia, mas foi perdendo força no decorrer do ano.
O apoio para o crescimento econômico veio dos diferentes auxílios promovidos pelo governo federal em ano eleitoral, como o Auxílio Brasil, Auxílio Gás, além dos abonos aos caminhoneiros e taxistas. Mesmo com as medidas adotadas, a inflação e a alta dos juros pesaram, o que pode acumular uma alta no PIB de poucos décimos.
Portanto, foi devido principalmente à grande ajuda do setor de serviços - que engloba bares, restaurantes, hotelaria, salões de beleza e outras atividades semelhantes - que houve um aumento, em especial no primeiro semestre, de 2,9% do PIB brasileiro, em 2022. Além disso, houve uma redução de 0,2% no 4º trimestre do ano, o que interrompeu uma sequência de cinco trimestres positivos. Mesmo assim, em comparação ao 4º trimestre do ano anterior, a economia teve um avanço de 1,9% em 2022.
Figura 17: Evolução do PIB ano a ano - Fonte: IBGE (Elaboração: g1)
Ademais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE, houve redução do número de pessoas desempregadas no país, com diminuição na taxa média de 3,9 pontos percentuais em comparação com 2021, tornando-se então 9,3%, o menor patamar desde 2015. No entanto, a melhora no número de pessoas empregadas foi marcada pela precarização no mercado de trabalho, pelo rendimento baixo de salários, e pelo recorde de trabalhadores informais registrados, uma vez que em 2022 o Brasil atingiu um número recorde de empregados sem carteira assinada, 12,9 milhões de trabalhadores nesta condição, cerca de 1,7 milhão a mais que em 2021, representado um aumento de 14,9%.
Figura 18: Taxa de Desemprego ao longo de 2022
Fonte: IBGE (Elaboração: g1)
Segundo pesquisa da CNC, o percentual de famílias endividadas no Brasil cresce de maneira acelerada, chegando a 77,9%, uma alta de 7 pontos percentuais em rela- ção a 2021 e de 14,3 p.p. se comparado com 2019, período pré-pandemia. O índice mais baixo foi registrado em 2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas. O número de famílias com dívidas atrasadas também aumentou consideravelmente, esse endividamento está relacionado principalmente à queda de renda e ao desemprego. As cidades com maior endividamento são Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG), mas o cenário é preocupante em todos os estados brasileiros.
Figura 19: Pesquisa De Endividamento e Inadimplência Do Consumidor (Peic) ao longo do ano, Fecomércio
Entretanto, em 2022, o volume de vendas do comércio varejista no Brasil cresceu 1,0%, em comparação com 2021, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE, sendo a menor taxa desde 2018, ano em que alcançou +2,3%. Desde então, o volume de vendas do setor não conseguiu crescer acima de 2%. Esse desempenho diminuto deve-se em razão da deterioração das condições de consumo.
De acordo com a CNC, a desaceleração do nível geral de preços (o IPCA acumulado em 12 meses recuou de +10,1% para +5,8% entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022) e o recuo do desemprego (a taxa de desocupação média cedeu de 13,5% para 9,5% no mesmo período) foram neutralizados pelo avanço dos juros e pelo elevado grau de comprometimento da renda.
Figura 20: Volume de vendas do comércio Varejista - Fonte: Pesquisa mensal do comércio, CNC
TURISMO
Assim como aconteceu no cenário internacional, mesmo diante de um quadro desfavorável economicamente falando, em 2022 o Turismo brasileiro reforçou sua resiliência e apresenta resultados bastante positivos.
Segundo os dados publicados pela OMT, o Brasil vem recuperando tanto o número de turistas internacionais, que alcançou os 3,63 milhões de turistas estrangeiros em 2022.
Figura 21: Chegada de turistas internacionais/Gastos de Turistas internacionais (em milhares de dólar U$). Fonte: UNWTO
O Sistema de Tráfego Internacional (STI) consolida os movimentos migratórios em território brasileiro, ou seja, as entradas e saídas de pessoas no país. Em 2022, foram registradas 4,5 milhões de entradas no Brasil, sendo 1,59 milhões por motivos de turismo. A Argentina é o país com maior volume de entrada de turistas registrados, com 603,69 mil, seguido do Paraguai com 127,42 mil e os Estados Unidos com 119,51 mil.
Figura 22: Painel dados STI - Fonte: SPRINT Dados, 2023
O IBGE, por meio do Índice de Atividades Turísticas, confirma que há registro de aumento das atividades turísticas de quase 30% comparado com 2021, receita impulsionada principalmente por empresas do ramo de transporte aéreo, alimentação e hotelaria. Houve avanço de receita turística em todas as unidades da federação, destacando Minas Gerais (49%), São Paulo (36%), Rio Grande do Sul (35%), Bahia (23%) e Rio de Janeiro (16%). Ainda de acordo com o IBGE, o segmento de turismo se encontra 1,5% acima do patamar de fevereiro de 2020 e 5,5% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.
Figura 23: Volume de Atividades Turísticas - Fonte: IBGE, 2023
Com base nos dados disponibilizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) afirma que os serviços turísticos no Brasil tiveram um aumento de 41% em junho de 2022, comparado ao mesmo mês do ano anterior. Entre os fatores que influenciam os números estão a escalada do querosene de aviação e do dólar, bem como a limitação do aumento da oferta de assentos e da dificuldade de recomposição de mão de obra, por: além dos preços elevados já praticados na alta temporada. Quando comparada com a inflação do mês de junho de 2021, três itens ganham destaque, sendo eles as passagens aéreas (122,40%), o pacote turístico (24,33%) e a hospedagem (20,09%). Para especialistas, para além de uma demanda reprimida que pressiona os preços, a elevação é resultado, principalmente, da inflação nos custos das empresas, após dois anos desafiadores.
Ainda conforme o apontamento feito pela FecomercioSP, o índice das passagens aé- reas, item que mais contribuiu para a alta, impulsionou o encarecimento do setor. Segundo a entidade, esse aumento significativo no preço das passagens aéreas tornou-se em um indicador desfavorável para o setor de turismo, pois esse item costuma impulsionar a demanda por outros serviços, como hospedagem, alimentação, locação de veí- culos, entre outros, fazendo com que turistas repensem suas programações. Com o intuito de alterar o atual cenário, o novo governo eleito traz como principal pauta do setor justamente a redução dos preços das passagens aéreas, visando uma democratização da aviação e para impulsionar o turismo doméstico.
Figura 24: Inflação do Turismo - Junho 2022, Fonte: FecomercioSP, 2022
Mesmo assim, conforme apresentado anteriormente, o turismo apresentou excelentes resultados em 2022 no Brasil e no mundo. A título de exemplo, segundo dados da FecomercioSP, o setor de Turismo teve um faturamento de R$94 bilhões no primeiro semestre de 2022. Comparado ao mesmo período de 2021, o aumento foi cerca de 33%. No setor, a maior razão do faturamento vem do transporte aéreo. De modo similar, outro segmento com uma alta taxa de representação são os serviços de hospedagem e alimentação. Por sua vez, as atividades relacionadas a locação de veículos, agências e operadoras de viagens e os serviços culturais também registraram aumento na sua receita.
Figura 25: Figura 4: Admitidos x Desligados - Fonte: Monitora Turismo, 2022
Em relação aos dados aéreos, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), os resultados também foram positivos, com maior índice de movimentação total em 2022, tanto de passageiros domésticos quanto internacionais, desde 2020. No mercado doméstico foram movimentados 82 milhões de passageiros – um aumento de 31,4% em relação ao total de 2021, e de 81,8% em relação a 2020.
Já no mercado internacional, foram registrados 15,6 milhões de passageiros pagos – um salto de 226,3% em relação aos números de 2021, e de 131% no que concerne a 2020.
Figura 26: Desempenho Aéreo Nacional . Fonte: ANAC, 2023
Segundo dados do painel Monitora Turismo, desenvolvido pela Profa. Mariana Aldrigui, em 2022 o setor de turismo respondeu por 6,09% das admissões formais geradas no Brasil. O responsável pelo aumento foram os eventos e as viagens corporativas, ultrapassando o ano de 2021, que representou um percentual de 5,76%. O ano de 2022 mostrou expansão das equipes em empresas de todas as áreas, assim como um grande volume de contratações de profissionais ligados ao setor de eventos, temporários e efetivos. Apesar do aumento expressivo de contratação e da demanda, a média salarial segue na faixa de 1,8 salários mínimos, sendo um ponto negativo para o turismo. Observamos a necessidade de mão de obra qualificada e, ao mesmo tempo, a dificuldade de reter talentos para o turismo. A baixa remuneração, jornadas longas e trabalho em datas comemorativas são alguns dos fatores que podem justificar a percepção de falta de atratividade do setor para os profissionais, e precisam ser considerados pelo setor como um todo para traçar estratégias para superar esses desafios, assim como a necessidade de um olhar atento para a capacitação dos atuais profissionais e preparação dos futuros profissionais
Já a demanda doméstica, que é medida em passageiros-quilômetros pagos transportados (RPK), teve variação positiva de 28,3% em relação ao ano de 2021. A oferta doméstica, por sua vez, medida por assento-quilômetros ofertados (ASK), apresentou um aumento de 29,9% em comparação com o ano anterior. Já em relação à demanda internacional, o RPK obteve variação positiva de 197,7% em comparação com 2021, e a oferta internacional de 95,5%.
Figura 27: Variação ASK x RPK Doméstico 2021 x 2022 - Fonte: ANAC, 2023
Figura 28: Variação ASK x RPK Internacional 2021 x 2022 - Fonte: ANAC, 2023
Com relação ao setor de transportes, no que concerne à locação de veículos, de acordo com o Anuário da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), o setor tem demonstrado grande relevância no cenário da mobilidade, em razão das dificuldades do setor aéreo. Em 2022, alcançou faturamento bruto de R$ 36,8 bilhões, 56,5% acima dos R$ 23,5 bilhões de 2021. O número de usuários cresceu 38,3%, sendo que a participação na frota por demanda do lazer representa 32% contra 16% de negócios.
Figura 29: Desempenho Locação de Veículos - Fonte: ABLA, 2023
O investimento em frotas chegou a R$ 55,2 bilhões. Em média, o investimento das locadoras por unidade foi de R$ 93,6 mil. E, ainda, o total de postos de trabalho nas locadoras subiu 4,7% entre 2021 e 2022, avançando de 85.494 para 89.550.
O setor terminou o ano com 1.434.299 unidades na frota, com um crescimento de 26,2% em relação a 2021. Além disso, a expansão também ocorreu em relação à frota total de automóveis e comerciais leves das locadoras, com total de híbridos e elétricos na frota das locadoras, chegando a 5.684 unidades.
Figura 30: Frota de automóveis - Fonte: ABLA, 2023
Com relação aos transportes marítimos, segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA - sigla em inglês), o impacto econômico gerado pelos gastos das armadoras, para a realização da temporada 2021/2022, foi de aproximadamente R$ 1,2 bilhão, resultado 3,1% maior que o da temporada anterior (2019/2020). O maior gasto das amadoras na temporada 2021/2022, em comparação com a anterior, foi com combustível, que apresentou variação de +40,4%, totalizando R$ 793,1 milhões. Os demais itens apresentaram saltos negativos, variando entre -66,8 % com comissionamento para operadoras de agências e -0,4 % com salários pagos.
Figura 31: Impacto econômico de cruzeiros marítimos - Temporada 2021/2022 Fonte: CLIA, 2022
Já o impacto gerado pelos gastos dos cruzeiristas e tripulantes nas cidades e portos de embarque/desembarque e trânsito foi de quase R$ 330 milhões. Entretanto, 70,3% inferior ao impacto gerado na temporada anterior, em virtude da redução de 69,9% no número total de cruzeiristas na temporada.
O impacto econômico total do setor de cruzeiros marítimos na temporada 2021/2022 foi de, aproximadamente, R$ 1,5 bilhão (33,2% inferior ao resultado da temporada 2019/2020). Essa atividade ainda gerou cercade mais de 23 mil empregos e mais de R$ 212 milhões em tributos pagos.
Durante a temporada 2021/2022, apenas 5 navios (3 da MSC e 2 da Costa) operaram na costa brasileira entre os meses de novembro de 2021 e abril de 2022 (com paralisação em janeiro e fevereiro de 2022) transportando pouco mais de 141 mil cruzeiristas. Ainda com relação à hotelaria, o relatório emitido pela Omnibees (uma plataforma de soluções tecnológicas para reservas de quartos), aponta para uma grande evolução em 2022, superando de forma substancial os valores de 2019.
No que diz respeito ao desempenho do setor hoteleiro brasileiro em 2022, de acordo com o informativo mensal do Fórum dos Operadores Hoteleiros (FOHB), que levou em consideração 444 hotéis de redes associadas responsáveis por 70.440 unidades habitacionais (UHs), em comparação com números pré-pandêmicos, houve uma leve baixa de -0,3% na taxa de ocupação, e aumento de 21% na diária média e 20,6% na receita por apartamento (RevPAR).
Em uma análise por região, a taxa de ocupação apresentou resultados positivos em todas as localidades, com exceção do Sudeste (-1,5%). Já a diária média apresentou percentuais positivos em todas as regiões, sendo o maior destaque para Nordeste, com 24,7%. Por fim, no tocante ao indicador RevPAR, apenas percentuais positivos foram registrados, com destaque para o Norte, com 31,1%
Figura 32: Desempenho hotelaria - Fonte: FOHB, 2023
Ainda conforme apresentado pelo INFOHB, dos quinze municípios analisados, um pouco mais da metade apresentou quedas na Taxa de Ocupação, variando entre -0,5%, em Vitória, e -8,9%, em Belo Horizonte, em comparação a 2019. As cidades que apontam percentuais positivos foram: Goiania (24%), Belém (8,3%), Manaus (4,3%), Curitiba (4%), Rio de Janeiro (2,5%) e Florianópolis (0,2%).
Já em relação à Diária Média, todos os municípios apresentaram percentuais positivos, em comparação com números pré-pandêmicos, variando entre 14,5%, em Brasília, e 36,1%, em Vitória. Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Goiânia, Florianópolis e Manaus também apresentam percentuais acima de 25%.
Figura 33: Tarifa Média, cidades com maior crescimento - Fonte: FOHB, 2023
A respeito dos resorts, de acordo com o Radar Resorts Brasil, que analisou uma amostra de 27 resorts e 10.597 quartos, a taxa de ocupação atingiu 60% em 2022, apresentando um salto de +10%, em comparação com 2019. Outro dado importante advém do TREVPAR, que é a medição da receita operacional total por quarto ocupado. Para este índice, são considerados a soma de quartos, alimentos e bebidas (A&B) e todas as outras receitas operacionais divididas pelo total de quartos vendidos. Desse modo, os resultados indicaram o valor de R$ 1005 em 2022, com salto de +52% em comparação com dados pré-pandêmicos.
Figura 34: Desempenho Resorts - Fonte: Resorts Brasil, 2023.
Ainda com relação à hotelaria, o relatório emitido pela Omnibees (Plataforma Privada de soluções tecnológicas para reservas de quartos), aponta uma grande evolução em 2022, superando de forma substancial os valores de 2019.
Destaque para a distribuição: as operadoras foram o canal com maior crescimento e melhor performance, superando os 200%. O que reforça a importância e relevância do papel/canal das operadoras no cenário das vendas de hospedagem no Brasil.
Nesse contexto, constatamos que, nos mais diversos setores da atividade turística, o desempenho foi bastante positivo. Notamos que há alguns campos com valores iguais ou superiores ao período pré-pandêmico, outros ainda batalhando, mas no caminho, para alcançar o seu melhor desempenho.